Cinco jornalistas de Hong Kong detidos e expulsos por cobertura de protestos na China

por Lusa

Hong Kong, China, 15 set (Lusa) -- Cinco jornalistas de Hong Kong foram reenviados para a antiga colónia britânica esta noite depois de terem sido detidos na China quando estavam a cobrir a repressão das autoridades aos protestos da população de Wukan, na província de Guangdong.

Um forte dispositivo policial está instalado na localidade desde terça-feira para tentar controlar os protestos dos populares contra a prisão do chefe local democraticamente eleito.

O chefe local, Lin Zulian, foi detido em junho, por alegado desvio de fundos públicos e, na semana passada, condenado a três anos de prisão por corrupção.

Os jornalistas que estavam a cobrir os acontecimentos na localidade da cidade de Lufeng -- incluindo os que estavam ao serviço dos jornais South China Morning Post, Ming Pao e HK01 -- disseram que foram detidos durante a noite.

Segundo um dos jornalistas, a polícia chinesa invadiu a casa de um residente onde estavam alojados por volta das 21:00 locais e levou-os, escreve a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

O jornalista disse que nenhum ofereceu resistência, mas que foram agredidos fisicamente pela polícia com socos e estaladas.

As autoridades pediram aos jornalistas para assinarem uma declaração em que prometiam não voltar a Lufeng para fazerem "cobertura jornalística ilegal" e reportagens sobre Wukan, acrescenta a RTHK.

Os jornalistas ficaram detidos até às 03:00 locais, tendo sido colocados num autocarro com destino à cidade chinesa de Shenzhen, a partir da qual regressaram a Hong Kong.

Com 15.000 habitantes, Wukan, uma localidade costeira do sul da China, tornou-se um símbolo de resistência popular em 2011, quando protagonizou uma das mais celebradas experiências democráticas do país.

Protestos contra a expropriação ilegal de terras culminaram com a demissão dos líderes locais, acusados de corrupção, e a eleição de um novo comité de aldeia por sufrágio direto.

Após a detenção de Lin Zulian, que encabeçou os protestos, a polícia disse que residentes locais "continuaram a lançar boatos e a insultar, ameaçar, forçar e subornar, visando instigar, planear e lançar manifestações de massas ilegais".

"Perturbação da ordem e dos transportes públicos", justificaram as detenções anunciadas esta semana, segundo um comunicado difundido pela polícia local.

Depois das detenções, os residentes entraram em confrontos com a polícia, que usou balas de borracha e gás lacrimogéneo para dispersar a manifestação, informou o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

Vídeos e fotos difundidos na internet mostram os manifestantes, alguns deles a sangrar, a atirar pedras contra a polícia.

Os protestos de 2011, em Wukan, foram inicialmente vistos apenas como um levantamento popular, semelhante às dezenas de milhares que todos os anos ocorrem na China.

A morte de um dos líderes dos protestos, sob custódia da polícia, contudo, levou os residentes a bloquear as estradas que davam acesso à aldeia, conseguindo expulsar as forças de segurança durante mais de uma semana.

O Partido Comunista Chinês decidiu então recuar e fazer conceções raras, incluindo investigar as disputas de terra e permitir aos locais organizar eleições livres.

Lin Zulian, 70 anos, foi então nomeado chefe local com 6.205 votos, num total de 6.812 eleitores, substituindo um homem de negócios que era acusado de roubar terras para as vender a promotores.

Na semana passada, porém, foi condenado a três anos de prisão por corrupção, depois de confessar ter aceitado subornos no valor de 590.000 yuan (80.150 euros).

FV (JOYP) // MP

 

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