Em direto
Guerra na Ucrânia. A evolução do conflito ao minuto

A barra de cereais que está a comer custou horas de trabalho a uma criança

por Catarina Marques Rodrigues - RTP
Há crianças de oito anos a trabalhar sem segurança na extração de óleo de palma (Indonésia) Amnistia Internacional

Chocolates, gelados, pastas de dentes ou produtos de limpeza. Há crianças de oito anos a trabalharem sem condições para conseguirem o óleo de palma necessário. Nestlé, Unilever e mais sete empresas foram denunciadas pela Amnistia Internacional.

Quando come um gelado Magnum, quando escova os dentes com pasta Colgate ou lava o cabelo com Pantene está a sustentar indústrias e empresas que usam óleo de palma obtido através de trabalho infantil e forçado. É esta a conclusão da investigação feita pela Amnistia Internacional que é agora tornada pública.

O relatório aponta o dedo a nove gigantes comerciais: AFAMSA, Archer Daniels Midland (ADM), Colgate – Palmolive, Elevance, Kellogg’s, Nestlé, Procter & Gamble (P&G), Reckitt Benckiser e Unilever. São empresas de produtos de higiene, de limpeza e de alimentação.

O óleo de palma é um dos mais baratos de mundo e, por isso, é o mais usado em variados produtos do nosso dia-a-dia. O consumo intensivo de óleo de palma já tinha sido objeto de alertas por parte de associações ecologistas, visto que tem contribuído para a desflorestação de muitos locais, mas agora o ponto é outro.

Há crianças de oito anos a trabalhar em “condições perigosas” para extrair o óleo. Algumas trabalham com produtos tóxicos. Outras são obrigadas a carregar sacos com pedaços de palmeiras com um peso entre 12 a 25 quilos.

Um rapaz de 14 anos, entrevistado pela Aministia Internacional, conta que desistiu da escola para trabalhar nas plantações de óleo de palma, porque era esse o trabalho do pai e o sustento da família. Como o pai adoeceu e deixou de poder trabalhar, o rapaz saiu da escola aos 12 anos para ir trabalhar na indústria.



Tudo isto acontece nas vastas plantações das árvores de óleo de palma que estas multinacionais têm na Indonésia.“Algo está mal quando empresas que conseguem milhares de milhões de lucro não conseguem fazer alguma coisa quanto às atrocidades que os trabalhadores passam”.

A Amnistia Internacional falou com 120 trabalhadores daquelas plantações e ouviu vários relatos de abusos.

Entre os adultos, as mulheres são as mais prejudicadas: algumas são forçadas a trabalhar horas a mais sob chantagem de não serem receberem qualquer pagamento e recebem apenas 2,50 dólares por dia (2,39 euros). A maioria dos trabalhadores cumpre o serviço sem seguro de acidentes de trabalho ou de saúde.

“As empresas estão a fechar os olhos à exploração dos trabalhadores. Prometem aos clientes que não há exploração nas suas cadeias de extração de óleo de palma, mas estas marcas continuam a lucrar com abusos chocantes. Estas conclusões vão chocar qualquer consumidor que pense em fazer escolhas éticas no supermercado”, considera Meghna Abraham, investigadora da AI, em comunicado.

A responsável avança ainda que os casos de trabalho forçado (sobretudo de mulheres) e de trabalho infantil não são “isolados” mas são, sim, parte do “sistema” e do negócio.
Tópicos
PUB