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José Sócrates recusaria fazer de António Costa

por Maria Flor Pedroso

Em entrevista à Antena 1, o antigo primeiro-ministro confessa que, se não tivesse vencido as eleições, não assumiria a liderança do Governo, como fez António Costa na sequência das últimas legislativas. Mas reconhece "toda a legitimidade" ao Executivo apoiado à esquerda.

Em circunstâncias análogas ao desfecho das últimas eleições legislativas, Sócrates não formaria governo. Mas manifesta-se frontalmente contra a oposição que a direita tem movido ao Executivo socialista.

"Eu nunca teria sido primeiro-ministro sem ter ganho as eleições, mas esse é um problema meu, agora reconheço toda a legitimidade a este Governo e a António Costa", afirmou o antigo primeiro-ministro, entrevistado pela editora de Política da rádio pública, Maria Flor Pedroso.

José Sócrates elogia, por outro lado, o facto de "este Governo ter começado como provisório e que agora já não é".
"Um erro político"

Quanto à banca, José Sócrates considera que o Governo - e eventualmente o Presidente da República - cometeu "um erro político" no caso do "decreto BPI": "Foi um erro e uma precipitação, mas o Governo fez isso com boa intenção de resolver um problema".

Na entrevista à Antena 1, Sócrates acaba por sair em defesa de Isabel dos Santos, embora sem nomear a filha do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

Acusa a Europa de se intrometer na política externa dos países, ao não permitir a presença de Angola, e critica a "espanholização" da banca portuguesa. Considera também que a situação do sector financeiro em Portugal é fruto do pedido de resgate que - insiste - a direita forçou em 2011.
Marcelo, um "alvoroço"

Sobre o sucessor de Cavaco Silva na Presidência da República, Sócrates escolhe a ironia: "Eis o PR. O meu programa é ser afetuoso com os portugueses".Sócrates diz que "não pode acompanhar" Marcelo Rebelo de Sousa no "alvoroço" de "aparecer todos os dias na televisão a comentar os mais diversos assuntos".


Ainda assim, considera que os portugueses precisavam de uma mudança no registo de Belém.  O antigo governante afirma que Marcelo Rebelo de Sousa "nunca quis agradar à força política que o apoiava, o que foi o segredo da sua vitória. É seu mérito político, teve essa inteligência".

Em suma, entende que há um ganho com Marcelo, que é mais simpático e espirituoso do que Cavaco, que, na sua opinião, se revelou "faccioso".

Ao PS, ainda no capítulo das presidenciais, reserva uma crítica. Sócrates estima que os socialistas entregaram "a eleição a Marcelo". E "mesmo quando se sabe que se vai perder não se pode desistir".

Marcelo Rebelo de Sousa, conclui o antigo chefe do governo, não sabe guardar um segredo, "mas com a experiência vai aprender".

Sócrates admite também não ter ele próprio "perfil para Presidente". Isto depois de ter sugerido, em entrevista ao jornal espanhol El País, que a Operação Marquês visou evitar a vitória do PS nas legislativas e a sua candidatura presidencial.
"O meu nome não está lá"
Ainda sobre o seu processo, José Sócrates refuta qualquer relação com os Panama Papers: "O meu nome não está lá".

"Quem anda aos papéis é o Ministério Público. O autor moral desta campanha é o MP", reforça Sócrates, que não poupa o seu próprio partido, ao sublinhar que não compreende o silêncio do Rato sobre a Operação Marquês.

Se não for deduzida acusação, o antigo líder socialista reafirma que vai processar o Estado português. "Não pode ser produzida prova sobre uma coisa que não aconteceu", frisa.

Nesta entrevista, José Sócrates refere-se ainda às eleições primárias nos Estados Unidos, para admitir que, "pela primeira vez", está de acordo com a eurodeputada Ana Gomes. Ou seja, a sua escolha seria o democrata Bernie Sanders.
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