No frente a frente na RTP, Marcelo Rebelo de Sousa negou ser um representante da direita, apesar de ter recomendações de voto de PSD e CDS-PP. Edgar Silva, por seu turno, não excluiu a hipótese de liderar o PCP. Ambos os candidatos defenderam alterações ao sistema de regulação do sistema financeiro, com críticas ao governador do Banco de Portugal.
“Se pensava que entraria e dissolveria, está enganado.
"Sou como sou e irei exercer o meu mandato com isenção e independência”, garantiu Marcelo. Se pensaria que a dissolução [do Parlamento] seria para ser utilizada como uma arma de vingança de uma segunda volta das legislativas, está enganado. Se pensa que há reservas relativamente ao apoio a um governo que tem a legitimidade parlamentar e quer fazer uma legislatura, está enganado", diz o candidato.
Edgar Silva considerou que Marcelo está a tentar esconder e dissimular os apoios que teve, numa “técnica do engodo” que tenta piscar o olho à esquerda nesta altura de campanha.
Em resposta, Marcelo reiterou que não está a esconder o apoio que recebeu, e relembrou que quando avançou não havia qualquer posição assumida pelo PSD e CDS. “Não estou vinculado”, garantiu Marcelo, ao mesmo tempo que agradeceu as críticas políticas e não ao seu perfil. “Toda a gente se armou em psicólogo estes dias”, ironizou.
O candidato apoiado pelo PCP, por seu turno, considerou que o apoio dos comunistas representa um “certificado de garantia” de que irá defender os portugueses, o povo e os trabalhadores, numa “rutura contra a política de direita”, evitando que esta recupere o poder.
Mais à frente, em resposta a Edgar Silva, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que não está "a concorrer para líder partidário" e que "nunca mais" voltará a liderar o PSD. Depois, desafiou o seu oponente a esclarecer, "já agora", se também exclui a liderança do seu partido. "Eu? Quem decide isso são os militantes do PCP", respondeu o comunista madeirense.
"Não se pode pedir a uma raposa que continue a vigiar o galinheiro"
Foi desta forma que Edgar Silva falou das regras de regulação do sistema financeiro e de quem exerceu esses poderes. “Não é só a pessoa, é um conjunto de regras (…) em que o supervisor esteve conivente com quem estava a prevaricar”, disse o candidato para defender uma alteração de fundo da supervisão bancária.
Defendeu o controlo público da banca, num processo em que ele acredita que o Presidente da República se deve empenhar. Por outro lado, Edgar Silva reiterou que o Presidente deve ter outro acesso à informação sobre o setor.
Marcelo Rebelo de Sousa veio defender a necessidade de transparência no processo de venda do Novo Banco, considerando que o Governo deve revelar se há ou não condições para uma boa venda da entidade. Se as condições forem “minimamente positivas”, Marcelo diz que se deve vender. Se não houver, então o “governo que diga ao país para ser repensada a situação”.
No que toca ao papel do Presidente da República, Marcelo considerou que ele “não pode ser um contrapoder” em relação ao Governo neste campo e que o seu magistério deve ser “equilibrado e pedagógico”. Defendeu também uma definição de regras quanto à intervenção do Governo e quanto aos efetivos poderes de supervisão do Banco de Portugal.
Rebelo de Sousa disse esperar que não haja mais surpresas como a do Banif. Quanto à permanência de Carlos Costa como governador do Banco de Portugal, Marcelo referiu que anteriormente já tinha defendido que "ele próprio deveria ter saído pelo seu pé" na altura da recondução. "Estava esgotada a sua experiência num determinado quadro", argumentou.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que o Presidente da República "deve vir a ter, sob proposta do Governo", poderes de nomeação do governador do Banco de Portugal. Edgar Silva considerou que essa não é "a questão central". Para o candidato, o Presidente deve “ter intervenção consequente, o que não aconteceu e devia ter acontecido”.