O líder do PS, António Costa, delegou esta noite na coligação PSD/CDS-PP a responsabilidade de encontrar condições de governabilidade do país, face à realidade dos resultados que impediram os socialistas de alcançarem os resultados a que se propuseram nas eleições legislativas deste 4 de outubro. Advertiu, no entanto, que “ninguém pode contar com o PS para viabilizar políticas contrárias ao PS”. Seria já nas respostas aos jornalistas que António Costa rejeitou a hipótese de demissão, por um lado, e de vir a liderar uma coligação alargada de esquerda, por outro.
Num curto discurso, Costa afastou o cenário de demissão, primeiro, e reiterou os objectivos do programa que levou a escrutínio, depois: “[O PS] será inteiramente fiel aos compromissos que assumiu perante os portugueses [e] qualquer que seja o lugar que ocupemos na Assembleia da República será este o nosso programa e seremos fiéis no seu cumprimento escrupuloso”.
Face aos resultados que não preencheram as expectativas do PS – António Costa acenou nos últimos dias com o desejo de uma maioria absoluta -, o secretário-geral dos socialistas assumiu a fatura da derrota nestas legislativas, garantindo contudo que “ninguém pode contar com o PS para viabilizar políticas contrárias ao PS”.Já no período de perguntas dos jornalistas, António Costa deu a garantia de que os socialistas “não serão maioria do contra”.
E foi ainda com as declarações da líder do BE, Catarina Martins, e da CDU, Jerónimo de Sousa, nos ouvidos, que os jornalistas questionaram se estaria o PS disponível para encabeçar um governo alargado de esquerda e garantir uma alternativa ao executivo minoritário da coligação PSD/CDS-PP.
Às sucessivas investidas dos jornalistas sobre o assunto, Costa forneceu uma resposta ambígua e sem compromisso. Na hora anterior, os partidos à esquerda do PS haviam dado um salvo-conduto a António Costa para se apresentar em Belém com uma solução de governo.
Depois de a líder bloquista Catarina Martins deixar claro que por vontade do BE a coligação PàF (PSD/CDS-PP), que vencerá estas legislativas com maioria relativa, não chegará a ter condições para “apresentar governo”, Jerónimo de Sousa, terminou o seu discurso afirmando que, “em nome da CDU, rejeitaremos qualquer tentativa de formação de governo ou de aprovação do programa de governo e, naturalmente, estamos em condições, sendo a alternativa outra, designadamente do PS, de agir em conformidade com estes dois objectivos”.
Trata-se contudo de um caminho que António Costa hesita em trilhar. Explicou depois que “o PS terá a sua reunião normal da Comissão Política na terça-feira”, altura em que será feita uma análise do comportamento eleitoral do partido.
“Reuniremos o nosso novo Grupo Parlamentar e, oportunamente, reuniremos também a Comissão Nacional. Certamente o partido fará serenamente a avaliação dos resultados eleitorais. Já o disse, assumo por inteiro e responsabilidade política e pessoal”, declarou.
Bloco abriu porta
Catarina Martins, a porta-voz do Bloco de Esquerda, reclamou mesmo para o seu partido o “melhor resultado de sempre numas eleições”. Destacou “mais votos, mais mandatos e mais força do que nunca”.
“Fomos o voto de confiança para trabalhadores, jovens e reformados. Agradeço a confiança de mais de meio milhão de eleitores que depositaram a sua confiança no BE”, disse.
A bloquista deixaria ainda uma garantia: “Se a coligação de direita não tiver maioria não será pelo Bloco de Esquerda que conseguirá formar Governo”.
“A confirmar-se que a direita não tem a maioria, se o Presidente da República, por filiação partidária ou pouca atenção aos votos, convidar a direita para um Governo, saiba que o Bloco de Esquerda, como é um partido de palavra, vai rejeitar no Parlamento essa possibilidade e o programa de um Governo de direita”, sublinhou.
Castigo à PàF
Por sua vez, o secretário-geral do PCP começaria por referir que a coligação de direita foi “fortemente” castigada pelos portugueses.
Tal como Catarina Martins, também Jerónimo de Sousa quis deixar claro que o PS tem condições para formar governo.
“Com este quadro, o PS tem condições para formar governo, mas têm de perguntar ao PS”, declarou, acrescentando que “o resultado de PSD e CDS, independentemente de ter sido a coligação mais votada, expressa uma clara condenação face aos quatro anos de Governo”.
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