Costa evita escada à esquerda para formar governo

por Paulo Alexandre Amaral, João Ferreira Pelarigo - RTP
“Certamente o partido fará serenamente a avaliação dos resultados eleitorais”, declarou Costa no Hotel Altis, em Lisboa

O líder do PS, António Costa, delegou esta noite na coligação PSD/CDS-PP a responsabilidade de encontrar condições de governabilidade do país, face à realidade dos resultados que impediram os socialistas de alcançarem os resultados a que se propuseram nas eleições legislativas deste 4 de outubro. Advertiu, no entanto, que “ninguém pode contar com o PS para viabilizar políticas contrárias ao PS”. Seria já nas respostas aos jornalistas que António Costa rejeitou a hipótese de demissão, por um lado, e de vir a liderar uma coligação alargada de esquerda, por outro.

Sublinhando que esta foi “uma campanha muito difícil” em que os militantes socialistas “lutaram até ao último momento por uma vitória que não foi alcançada”, António Costa começou por distribuir cumprimentos e felicitações a todos os intervenientes na campanha – aos adversários também, mas em particular à máquina socialista.

Num curto discurso, Costa afastou o cenário de demissão, primeiro, e reiterou os objectivos do programa que levou a escrutínio, depois: “[O PS] será inteiramente fiel aos compromissos que assumiu perante os portugueses [e] qualquer que seja o lugar que ocupemos na Assembleia da República será este o nosso programa e seremos fiéis no seu cumprimento escrupuloso”.

Face aos resultados que não preencheram as expectativas do PS – António Costa acenou nos últimos dias com o desejo de uma maioria absoluta -, o secretário-geral dos socialistas assumiu a fatura da derrota nestas legislativas, garantindo contudo que “ninguém pode contar com o PS para viabilizar políticas contrárias ao PS”.Já no período de perguntas dos jornalistas, António Costa deu a garantia de que os socialistas “não serão maioria do contra”.

E foi ainda com as declarações da líder do BE, Catarina Martins, e da CDU, Jerónimo de Sousa, nos ouvidos, que os jornalistas questionaram se estaria o PS disponível para encabeçar um governo alargado de esquerda e garantir uma alternativa ao executivo minoritário da coligação PSD/CDS-PP.

Às sucessivas investidas dos jornalistas sobre o assunto, Costa forneceu uma resposta ambígua e sem compromisso. Na hora anterior, os partidos à esquerda do PS haviam dado um salvo-conduto a António Costa para se apresentar em Belém com uma solução de governo.

Depois de a líder bloquista Catarina Martins deixar claro que por vontade do BE a coligação PàF (PSD/CDS-PP), que vencerá estas legislativas com maioria relativa, não chegará a ter condições para “apresentar governo”, Jerónimo de Sousa, terminou o seu discurso afirmando que, “em nome da CDU, rejeitaremos qualquer tentativa de formação de governo ou de aprovação do programa de governo e, naturalmente, estamos em condições, sendo a alternativa outra, designadamente do PS, de agir em conformidade com estes dois objectivos”.

Trata-se contudo de um caminho que António Costa hesita em trilhar. Explicou depois que “o PS terá a sua reunião normal da Comissão Política na terça-feira”, altura em que será feita uma análise do comportamento eleitoral do partido.

“Reuniremos o nosso novo Grupo Parlamentar e, oportunamente, reuniremos também a Comissão Nacional. Certamente o partido fará serenamente a avaliação dos resultados eleitorais. Já o disse, assumo por inteiro e responsabilidade política e pessoal”, declarou.
Bloco abriu porta
Catarina Martins, a porta-voz do Bloco de Esquerda, reclamou mesmo para o seu partido o “melhor resultado de sempre numas eleições”. Destacou “mais votos, mais mandatos e mais força do que nunca”.

“Fomos o voto de confiança para trabalhadores, jovens e reformados. Agradeço a confiança de mais de meio milhão de eleitores que depositaram a sua confiança no BE”, disse.

A bloquista deixaria ainda uma garantia: “Se a coligação de direita não tiver maioria não será pelo Bloco de Esquerda que conseguirá formar Governo”.

“A confirmar-se que a direita não tem a maioria, se o Presidente da República, por filiação partidária ou pouca atenção aos votos, convidar a direita para um Governo, saiba que o Bloco de Esquerda, como é um partido de palavra, vai rejeitar no Parlamento essa possibilidade e o programa de um Governo de direita”, sublinhou.
Castigo à PàF

Por sua vez, o secretário-geral do PCP começaria por referir que a coligação de direita foi “fortemente” castigada pelos portugueses.

Tal como Catarina Martins, também Jerónimo de Sousa quis deixar claro que o PS tem condições para formar governo.

“Com este quadro, o PS tem condições para formar governo, mas têm de perguntar ao PS”, declarou, acrescentando que “o resultado de PSD e CDS, independentemente de ter sido a coligação mais votada, expressa uma clara condenação face aos quatro anos de Governo”.
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