Centenas de funcionários da companhia aérea francesa irromperam esta manhã numa reunião em que era apresentado um plano de reestruturação que pode suprimir quase três mil postos de trabalho na empresa. O presidente da Air France abandonou o local, mas o diretor de recursos humanos e o responsável dos voos de longo curso foram rodeados pelos trabalhadores e acabaram de camisa rasgada. A direção da companhia vai apresentar queixa por “violência agravada”.
O presidente da Air France, Frédéric Gagey, saiu precipitadamente do local. O diretor de Recursos Humanos, Xavier Broseta, foi rodeado pelos manifestantes e acabou de tronco nu e a ser escoltado para fora do local por seguranças. O responsável pelos voos de longo curso, Pierre Plissonnier, foi igualmente escoltado para fora do local.
Pierre Plissonnier, responsável da Air France para voos de longo curso, rodeado por funcionários que invadiram a reunião
Os incidentes provocaram sete feridos. Um deles, um segurança, ficou ferido com gravidade.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls afirmou estar “escandalizado” com uma “violência inaceitável”. Críticas que foram reforçadas pelo ministro dos transportes, Alain Vidalies. Demissões pela primeira vez na Air France
O clima de turbulência na Air France deve-se ao que a empresa chama de “Plano B” de reestruturação, depois de terem sido encerradas sem sucesso as negociações com os pilotos sobre um anterior plano de medidas para o aumento da produtividade, que visava o aumento das horas de voo.
O novo projeto de reestruturação prevê o corte de 2.900 postos de trabalho em 2016 e 2017: 300 pilotos, 900 hospedeiras e elementos da tripulação, Será a primeira vez na história da empresa que serão despedidos funcionários.1.900 funcionários das equipas de terra. São 4,5 por cento dos 64 mil trabalhadores da empresa.
A transportadora aérea francesa pretende reduzir 170 milhões de euros por ano até 2018.
Em causa ainda a redução das ligações de longo-curso da Air France, já que metade das ligações são deficitárias. A frota, de 107 aviões, deverá perder 14 aparelhos, cinco no próximo ano e nove em 2017. Em 2017, a companhia deverá suprimir cinco rotas, na Índia e sudeste asiático.
A empresa, no entanto, assegura que vai privilegiar as saídas voluntárias e diz estar disponível para “a todo o momento, reiniciar as negociações com os sindicatos”. Disponibilidade já reforçada depois dos incidentes pelo presidente-diretor geral da Air France-KLM, Alexandre de Juniac.
Este ano a empresa conseguiu melhorar as contas, depois de seis anos de perdas. Uma melhoria que se ficou a dever sobretudo à baixa do preço dos combustíveis. No entanto, o aumento da concorrência (as lowcost no curto e médio cursO acordo com os quatro mil pilotos é visto como essencial, já que estes concentram a maioria da massa salarial da empresa.o e as companhias aéreas do Golfo no longo curso) tem colocado sérios desafios à companhia aérea francesa.
Os sindicatos tentam forçar agora a direção voltar às negociações. O primeiro-ministro francês Manuel Valls já tinha vindo apelar à “responsabilidade” dos pilotos e deixou o aviso de que, sem reformas, a Air France está em risco. “Sabemos que uma companhia pode desaparecer”, alertou Valls no sábado.
O Estado francês reforçou este ano a participação no capital da Air France-KLM, detendo 17,6 por cento do capital. O grupo é o número dois na Europa, atrás da alemã Lufthansa.
(com agências)