O ministro alemão das Finanças afirmou esta quarta-feira que Lisboa está no caminho de um segundo programa de resgate, mas voltou atrás na afirmação esclarecendo que Portugal só vai precisar de nova intervenção caso “não cumpra” as regras europeias. O Ministério das Finanças já veio entretanto desmentir qualquer intenção de pedir um novo plano de resgate financeiro. Carlos César, do PS, fala de uma "arrogância persistente" por parte do governante germânico.
Minutos mais tarde, o ministro alemão corrigiu as declarações e esclareceu, em resposta aos jornalistas, que “os portugueses não vão precisar de um segundo resgate se cumprirem as regras europeias”. Reportagem de Patrícia Cracel e Luís Vilar - RTP
Em declarações ao jornal Expresso, o porta-voz do ministro alemão das Finanças negou entretanto que Schäuble tenha dito que Portugal "precisa de um resgate".
Frank Paul Weber esclarece que o novo plano de resgate não é sequer uma hipótese em cima da mesa e que este se tratou apenas de um "aviso" ou "bom conselho", dirigido não apenas a Portugal, mas a todos os países da zona euro que não cumpram os acordos estabelecidos.
Governo nega novo resgate
Em Lisboa, o executivo já reagiu a estas declarações e garante que não está a ser considerado qualquer novo plano de resgate financeiro.
"Tendo em conta as declarações do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, e ainda que tendo sido imediatamente corrigidas pelo próprio, o Ministério das Finanças esclarece que não está em consideração qualquer novo plano de ajuda financeira a Portugal, ao contrário do que o governante alemão inicialmente terá dito", pode ler-se no comunicado enviado esta tarde às redações.
O gabinete de Mário Centeno reitera ainda que o Governo está “focado no cumprimento das metas estabelecidas”, nomeadamente no que diz respeito aos dados da execução orçamental.
“No atual momento que a Europa atravessa, o Governo continuará a trabalhar com a serenidade e a responsabilidade” e mantém-se empenhado em cumprir os "compromissos europeus, parlamentares e, acima de tudo, com os portugueses”, lê-se na nota divulgada pelo Ministério das Finanças.
"Arrogância persistente"
Corrigido o lapso e esclarecidas todas as dúvidas, o ministro alemão não escapa às críticas. Marcelo Rebelo de Sousa reagiu ao fim da tarde às declarações e relacionou as palavras de Schäuble com a especulação de uma eventual aplicação de sanções a Portugal.
O Presidente da República diz mesmo que "já é a terceira, quarta ou quinta vez" que este tipo de situação se repete, e deve por isso ser relativizada.
"Isto em política chama-se pressão política ou especulação política. Faz parte da lógica da política e da lógica da especulação político-económica, ali nos últimos oito dias antes de uma decisão, haver as notícias e os comentários mais variados", acrescentou o chefe de Estado.
Em declarações à agência Lusa, Carlos César fala de "arrogância persistente e insensata" por parte do governante. O presidente do PS acrescenta que foi vísivel que Schäuble "não percebeu o que disse e do que falava".
No Parlamento, o deputado socialista João Galamba comentou as afirmações do ministro alemão, dizendo que a Europa não precisa de "mais incendiários".
"As declarações do senhor ministro das Finanças alemão, apesar de rapidamente corrigidas, são de uma enorme irresponsabilidade", disse o socialista, acrescentando que "não há qualquer justificação para continuar a insistir com declarações que colocam Portugal sob pressão".
Catarina Martins reagiu no Twitter à confusão de declarações e diz que Schäuble está a "atiçar especuladores contra Portugal".
A líder bloquista destaca que este "descuido" acontece pouco depois de terem sido conhecidos os dados da execução orçamental.Pouco depois de serem conhecidos dados positivos de execução orçamental, Schauble "descuida-se" para atiçar especuladores contra Portugal.
— Catarina Martins (@catarina_mart) June 29, 2016
Não é a primeira vez que Wolfgang Schäuble profere declarações polémicas sobre a situação financeira em Portugal. Ainda recentemente, em maio, quando a Comissão Europeia decidiu adiar até julho a possível aplicação de sanções a Portugal e Espanha, por incumprimento do Pacto de Estabilidade, o ministro alemão das Finanças considerou que esse retardamento de uma decisão “não contribui para reforçar o cumprimento das regras europeias”.
c/ Lusa