Os produtores de porco alentejano estão a viver um período de vendas "muito bom", devido à procura "bastante grande" de animais da raça por parte de indústrias espanholas para produção de presuntos, segundo uma associação de criadores.
"Felizmente", o porco preto de raça alentejana, criado no montado e alimentado a bolota, está "a viver um período muito bom a nível de mercado, esperemos que seja estável, para durar", disse hoje à agência Lusa Nuno Faustino, presidente da Associação de Criadores de Porco Alentejano (ACPA), com sede em Ourique, no distrito de Beja.
Segundo o responsável, a produção de porco alentejano, "obviamente", enfrenta "alguns problemas", sobretudo de legislação, nomeadamente em questões como as medidas agroambientais e as raças autóctones, mas a nível de mercado está, "de facto", a viver "um período favorável, contrariamente" ao que se passa com o porco branco do regime intensivo.
Em Espanha, está em "grande recuperação" e "a voltar para níveis anteriores à crise" o consumo de "jamón ibérico puro de bolota", presunto produzido a partir de porco alentejano e da sua raça "irmã" espanhola, o porco ibérico, que são abrangidos por uma norma de qualidade no país vizinho.
Por isso, explicou Nuno Faustino, "tem havido uma procura bastante grande" de porcos das raças alentejana e ibérica, sobretudo da parte das indústrias espanholas para produzirem "jamón ibérico puro de bolota" em Espanha.
Na altura da crise, as indústrias compraram poucos porcos e, agora, como a venda de presuntos está "a voltar em grande força", os "stocks" de animais "foram-se abaixo", disse.
Por isso, as indústrias necessitam de repor os "stocks" de porcos das duas raças para terem matéria-prima para produzirem "jamón ibérico puro de bolota", explicou, referindo que "a maior parte da produção nacional" de porcos de raça alentejana é exportada para Espanha.
"Daí que o porco alentejano esteja com uma situação de mercado muito boa, porque não existem assim também tantos animais como isso e existe bastante procura", disse, frisando que "é o mercado a funcionar" e os preços dos porcos daquela raça têm estado "muito bons".
Segundo Nuno Faustino, no mercado português, "também se nota uma procura [de porco alentejano] superior à registada nos últimos anos por parte das indústrias nacionais", mas estas "absorvem pouca matéria-prima", já que são médias e pequenas e têm "pouca capacidade de escoar" a produção de animais em Portugal, "que já de si é pequena".
"Tem havido crescimento" da procura por parte das indústrias portuguesas, sobretudo de duas empresas, uma de Barrancos e outra de Ourique, que "são as que têm mais expressão" e compram porcos de raça alentejana para fazerem presuntos e enchidos.
Mas, "a nível de presunto, porque o porco alentejano destina-se sobretudo à produção de presunto, o grande cliente e quem de facto marca este mercado e dita as regras deste mercado são os espanhóis, que são os grandes consumidores" de porcos de raça alentejana.
Já o mercado de carne de porco alentejano, de Denominação de Origem Protegida (DOP), "está praticamente a zero", porque "matam-se muito poucos" animais para o processo de venda de carne fresca e "o grosso da coluna dos porcos" destina-se à produção de presuntos e enchidos em Portugal e "sobretudo para o mercado espanhol" para produção de presuntos.