Chegou Paulo Macedo. O terceiro presidente da Caixa em menos de um ano

por Christopher Marques - RTP
Paulo Macedo terá de dar vida ao plano de recapitalização negociado entre António Domingues, o Governo e as instituições europeias Tiago Petinga - Lusa

Mais de um ano depois do fim do mandato de José de Matos. Cinco meses depois da entrada em funções de António Domingues e das polémicas que o envolveram. É esta quarta-feira, dia 1 de fevereiro. Paulo Macedo assume os comandos do banco público com a missão de cumprir o plano de recapitalização acordado com as entidades europeias.

Ao assumir as rédeas da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo regressa à arena mediática 15 meses depois de ter saído do Ministério da Saúde. Licenciado em Organização e Gestão pelo ISEG e pós-graduado em Gestão Fiscal, Macedo esteve no setor público como gestor e ministro.

Os portugueses conhecem-no particularmente desde 2004, quando o então vice-presidente do BCP foi convidado pela ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite para diretor-geral dos Impostos.

Paulo Macedo fica à frente do fisco até 2007, tendo como missão recuperar o dinheiro das receitas fiscais. No entanto, acabou por ser notícia pelo dinheiro que iria receber: mais de 23 mil euros.

Acaba por sair do cargo quando o Governo socialista de José Sócrates aprova a limitação de salários na Administração Pública, apresentando críticas à política seguida.

Patrícia Machado, Ana Cardoso Fonseca, Samuel Freire - RTP

"Há uma total inversão ao nível das remunerações na administração pública: os piores ganham o que nunca ganhariam no privado e os melhores ganham muitíssimo menos do que deveriam", afirma ao Expresso.

Regressa ao Banco Comercial Português, tendo ainda feito parte do Conselho de Supervisão da Euronext. A partir de 2011 embarca na vida política, tomando posse como ministro da Saúde do Executivo de Pedro Passos Coelho.

Até 2015 levou a cabo cortes no setor, mas foi apesar de tudo um dos ministros mais populares do Governo então apoiado por PSD e CDS-PP. Comprou guerra com as farmacêuticas por causa do preço dos medicamentos.

Já não embarcou no segundo Executivo de Passos, que acabaria por tornar-se o mais curto de sempre. Regressou ao setor privado, tendo sido administrador da Ocidental Vida. Ocupa agora o lugar deixado vago por António Domingues na Caixa Geral de Depósitos. A missão não se avizinha fácil.
Um plano para cumprir
O ano de 2017 começará com a apresentação dos resultados do banco público em 2016. Paulo Macedo dará a cara pelos avultados prejuízos que a Caixa Geral de Depósitos deverá apresentar: cerca de três mil milhões de euros. O objetivo é que o balanço da instituição fique limpo e que a CGD regresse aos lucros já no próximo ano.

Paulo Macedo terá ainda de dar vida ao plano de recapitalização negociado entre António Domingues, o Governo e as instituições europeias.

A primeira fase da recapitalização ocorreu já no início do ano, com o aumento do capital social do banco público em 1.445 milhões de euros. Este processo concretizou-se com a conversão em capital de 945 milhões de euros dos chamados CoCos, que tinham sido emprestados pelo Estado em 2012.
 
Os restantes 500 milhões de euros dizem respeito à passagem para o banco público das ações da sociedade ParCaixa. Falta ainda a injeção de 2.700 milhões de euros em dinheiro fresco que será feita pelo Estado. O mercado vai entrar ainda com 500 milhões de euros em obrigações.

No seu conjunto, o plano de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos aproxima-se dos cinco mil milhões de euros. O projeto que António Domingues apresentou para a Caixa Geral de Depósitos prevê ainda uma cura de emagrecimento: a saída de 2.200 trabalhadores até 2020 e o encerramento de até 200 balcões.

O plano prevê ainda menor presença do banco português no estrangeiro, estando pensadas as vendas das operações em Espanha e no Brasil.
A equipa de Macedo
São agora sete os administradores da Caixa Geral de Depósitos. A lista liderada por Paulo Macedo conta ainda com João Tudela Martins, que transita da equipa de António Domingues.

Francisco Cary troca o Novo Banco pela Caixa Geral de Depósitos. Também com experiência no Novo Banco, José João Guilherme chega ao maior banco português. Nuno de Carvalho Martins abandona o gabinete do secretário de Estado do Tesouro e Finanças para integrar a equipa de Paulo Macedo.

O futuro da Caixa Geral de Depósitos passa também pelas mãos de Maria João Carioca, ex-presidente da Bolsa de Lisboa. A Administração Macedo conta ainda com José Brito que já estava na Caixa Geral de Depósitos.

Falta ainda a aprovação dos nomes dos administradores não executivos da Caixa Geral de Depósitos. Em comunicado, a tutela indicou que serão ainda "submetidos ao BCE e sujeitos ao processo de avaliação de idoneidade e adequação”.

O nome de Rui Vilar foi já aprovado. O gestor será presidente não executivo da Caixa Geral de Depósitos, transitando da equipa de António Domingues onde era vice-presidente não executivo.
Fim das polémicas?
A entrada em funções de Paulo Macedo apresenta-se como uma nova fase na vida da Caixa Geral de Depósitos, depois das polémicas suscitadas em torno de António Domingues.

O ex-vice-presidente do BPI foi nomeado para o banco público em abril de 2016, mas só entrou em funções em agosto.

Antes ainda de ocupar a cadeira de José de Matos, Domingues somou polémica atrás de polémica. Os problemas começaram com o Governo a decidir excluir os gestores da Caixa Geral de Depósitos do limite salarial previsto para as empresas públicas. Uma decisão que não gera unanimidade na maioria de esquerda.

Aproxima-se o verão e mantém-se a indefinição na Caixa Geral de Depósitos. Em junho, o PSD e o CDS-PP avançam com a formalização de uma Comissão Parlamentar de Inquérito ao banco público. Os partidos pretendem avaliar o plano de recapitalização mas também os empréstimos que foram concedidos pela instituição desde 2000.

Em agosto o Banco Central Europeu aprova a estrutura de administração prevista para a Caixa Geral de Depósitos mas chumba oito dos 19 nomes propostos. António Domingues entra em funções no fim do mês mas com uma equipa mais pequena do que a inicialmente apresentada.

Domingues começa oficialmente a liderar a Caixa mas as polémicas não param. O salário do gestor volta a ser notícia quando é conhecido o valor: 423 mil euros - quase o dobro dos mais de 230 mil de salário do antecessor no cargo, José de Matos.

O valor não convence ninguém e o Governo fica isolado. O Bloco de Esquerda promete guerra ao aumento salarial, que também é criticado pelo PCP. O próprio Presidente da República não parece convencido. António Costa responde que a questão dos vencimentos pode ser “impopular” mas diz não arriscar “a má gestão na CGD”.

No entanto, as críticas e preocupações extravasam a questão salarial, quando fica claro que os administradores do banco estão isentos de algumas regras de transparência a que estavam sujeitos os seus antecessores.

É precisamente a polémica das declarações que dita a queda de Domingues. A saída concretiza-se depois de os deputados do Bloco de Esquerda terem votado viabilizado com o PSD e o CDS-PP uma proposta de alteração ao Orçamento do Estado que obriga os administradores a apresentar as declarações de rendimentos no Tribunal Constitucional.
Tópicos
PUB