O presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) afirmou hoje que a liberalização do espaço aéreo nos Açores traz competitividade, mas pediu cautela com a SATA, por ser uma empresa "âncora" na acessibilidade ao arquipélago.
"Os Açores têm problemas de acessibilidade muito grandes. Por isso, os Açores têm uma dependência muito grande da SATA. É comparável à dependência do continente com a TAP, mas nos Açores a dependência da SATA é maior", afirmou Pedro Costa Ferreira, ouvido hoje pelos deputados da comissão de inquérito ao Grupo SATA no parlamento dos Açores.
A comissão de inquérito foi proposta pela bancada do PSD e subscrita por toda a restante oposição. Tem como objetivo apurar as responsabilidades pela situação financeira em que se encontra a companhia aérea açoriana, que teve prejuízos de 35 milhões de euros em 2014.
Pedro Costa Ferreira considerou ser "essencial ter uma SATA forte e com futuro" para que a região tenha algum controlo sobre a acessibilidade ao destino Açores, dada a dependência do transporte aéreo.
O presidente da APVT, ouvido por indicação do PS, pediu cautela quando se olha para os resultados da liberalização, apesar de reconhecer que esta trouxe "fatores positivos" aos Açores, como "juntar novos segmentos de procura e aumento dos fluxos turísticos".
Desde 29 de março que as ligações aéreas entre duas ilhas dos Açores (São Miguel e Terceira) e o continente estão liberalizadas, o que levou à entrada na região de duas companhias aéreas de baixo custo (Ryanair e easyJet), que voam, para já, apenas para Ponta Delgada (S. Miguel).
"Se a liberalização for a cura para a região, espero que a SATA não morra dessa cura. Só assim não correremos enormes perigos de causar uma dependência muito pior de algo de que não temos controlo", afirmou Pedro Costa Ferreira, defendendo que os Açores não se dever tornar num destino barato.
O responsável considerou que a liberalização traz competitividade: "Temos de acompanhar este processo com muito cuidado. Não deitaria fogo-de-artifício nesta primeira fase. No território nacional já vi chegar companhias `low cost` e partir `low cost`. Neste processo de liberalização o que mais me preocupa é a SATA, por ser a âncora. Todo este movimento precisa de consolidação".
Se a SATA desaparecesse, disse, do ponto de vista teórico, o destino Açores não desaparecia, mas "o processo de substituição de uma companhia aérea é doloroso e demora algum tempo".
O capital social da SATA, agora maioritariamente público, "não é determinante", pelo que "a privatização é como a liberalização, ou seja, é um passo em frente" e a importância da companhia "manter-se-á independentemente da origem do capital social".
Questionado sobre a promoção turística do destino Açores, disse que no território nacional o que tem sido feito é "coerente" e "muito voltada para criar um imaginário sobre o destino". Já a nível europeu, considerou haver necessidade de mais promoção, alegando que a falta de visibilidade só se combate "com insistência e com investimento".
"Tem de haver mais promoção, mais investimento senão não há visibilidade do destino. Quanto mais imaturo for o destino, mais investimento é necessário", referiu Pedro Costa Ferreira, que considerou os Açores "um destino pouco maduro, resolvido e com dúvidas sobre o que se poderá aqui fazer".
"A região e os políticos da região devem saber encontrar um equilíbrio já que a SATA é um instrumento político, mas não deve ser instrumento da política", afirmou Pedro Costa Ferreira.
Relativamente às decisões da administração da SATA de inaugurar rotas entre os Açores e o norte da europa, entretanto encerradas, Pedro Costa Ferreira disse não ter conhecimentos efetivos, mas referiu que "sem abrir rotas não se melhora a acessibilidade, nem se aumenta os fluxos turísticos".