Porto, 24 mai (Lusa) -- A banda punk Renegados de Boliqueime vai regressar aos concertos no sábado, no Hard Club, do Porto, para comemorar a sua fundação há 20 anos e voltar a mostrar o seu "sexo, política e álcool" em palco.
Quando se formaram, em 1993, Cavaco Silva era primeiro-ministro. Hoje, 20 anos depois, é Presidente da República e para Frágil, o vocalista dos Renegados de Boliqueime, "não podia ser melhor altura" para a banda celebrar 20 anos.
Na altura, afirma ele, os Renegados "personificavam os filhos da crise e Cavaco uma espécie de Thatcher à portuguesa", de forma que lhes pareceu lógico "misturar no nome da banda a terrinha do homem que comandava" os destinos nacionais. "Ele seria o nosso papá, mas nós é que o renegamos", brinca.
A banda, que acabaria por cessar atividade em 2006, ficou conhecida por temas como "Troco Deus por uma cerveja" e pelos seus concertos caóticos. "Não éramos aquela banda de "sexo, drogas e rock `n`roll", mas antes de "sexo, política e álcool", afirma Frágil.
O mais importante que Frágil retém dessa altura era "a união, o punk, acima de tudo tentar que o punk não morresse em Portugal". Para ele, os Renegados foram sempre "uma conjugação de amizade com música com festa, com loucura pelo meio, mas acima de tudo tentar unir os punks". "Acho que conseguimos isso", afirma.
A banda "acabou porque cada um quis fazer outros projetos e não tinha muita lógica continuar, porque ou nos vendíamos ao sistema do Cavaca Silva ou acabávamos. Por isso acabamos".
Para memória futura ficaram duas maquetes passadas de mão em mão em cassetes, um disco caseiro gravado em casa e uma coletânea editada por elemento da banda.
Ainda hoje Frágil continua ligado à música como produtor de um clube de rock, enquanto Guerra (guitarra) é tradutor, Rui (baixo) é jornalista e Giró (bateria) que é `chef` de cozinha em Inglaterra continua a tocar nos Freedoom e nos AIDS.
Questionado sobre como é que alguém se torna punk em Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes - de onde é natural -, Frágil responde rapidamente que "nasce no meio da pobreza, pelo gosto pela música, pela excentricidade, pela raiva com que a música era cantada". Depois, lembra que tudo começou por "escutar rádio, ouvir Dead Kennedys e a partir daí estabelecer uns contactos no Porto, receber fanzines, cassetes e começar a levar a coisa mais a sério".
No concerto deste sábado também atuam os Freedoom, Estado de Sítio e Hellcharge. A entrada custa cinco euros.