Missão do Teatro São João "manca" por falta de verbas para produções próprias

por Lusa

A presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional São João, Francisca Fernandes, disse hoje que parte da missão daquela instituição está "manca" pelo impacto da crise e dos cortes financeiros que levaram à diminuição das produções próprias.

No discurso introdutório da apresentação da programação até ao final do ano do Teatro Nacional São João (TNSJ), Francisca Fernandes disse que, "passado o auge da tempestade" da crise, "é hora de repensar bem aquilo que se perdeu e, consequentemente, aquilo que pode e deve recuperar-se entre o que teve que ser `sacrificado`".

Entre 2008 e 2015 o orçamento de atividade do São João caiu 48%, lembrando a responsável da instituição que, em 2012, foi introduzido um corte de 1,2 milhões de euros no valor da indemnização compensatória.

A nível das produções próprias, o valor anual desceu 86% nos últimos sete anos, o que significa que, desde 2012, não tem sido possível fazer mais do que uma produção própria "-- ou nem isso -- e reduzida em todas as suas dimensões".

"O número de pessoal está abaixo do mínimo que deve ser considerado como aceitável; quanto a este aspeto, basta referir que apesar da integração de dois novos espaços -- o Teatro Carlos Alberto em 2003 e o Mosteiro de São Bento da Vitória em 2007 -- e do funcionamento dos seus três espaços muitas vezes em simultâneo, o TNSJ possui hoje menos cinco trabalhadores do que em 2002, quando `apenas` geria e programava o Teatro São João", disse a presidente do Conselho de Administração.

Desta forma, Francisca Fernandes realçou que "o Teatro Nacional possui hoje praticamente todos os meios logísticos e, sobretudo, todos os meios humanos de que precisa, faltando-lhe porém capacidade financeira para realizar em pleno a sua missão, ou seja, para poder ir de facto mais além na prossecução da sua missão".

Em declarações à Lusa depois da apresentação, a presidente do TNSJ referiu que se reforçaram as coproduções e os acolhimentos, foi possível manter o interesse do público (que cresceu 37% desde 2008), mas questionou: "a que preço?"

"O preço foi as produções próprias quase desaparecerem. E isso tem um custo e era preciso perceber que sem dinheiro não se podem fazer as produções próprias ao nível a que estávamos a fazer. E isso implica que parte da missão do Teatro Nacional, na minha forma de ver, esteja manca", declarou.

O que, para a presidente do Conselho de Administração do TNSJ, significa que "é preciso perceber que há coisas que tinham de ser sacrificadas, mas há outras que urge não continuar a sacrificar sob pena de o resultado ser muito, muito penoso para o teatro português".

"Isto é suprapartidário, é para além de eleições, é preciso perceber que não está tudo bem. É natural que quem está longe não perceba o que é que se sacrificou, [mas] é preciso voltar a olhar e perceber que urge não sacrificar tudo", apelou Francisca Fernandes.

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