Festival de Design de Londres abre portas a peças de mobiliário sustentável de Ana Mestre

por Diana Palma Duarte - RTP

A sustentabilidade no Design dos produtos tem sido um dos principais lemas de Ana Mestre. Esta quinta-feira, em Londres, vai mostrar os porquês desta escolha, numa nova etapa profissional, com a exposição de peças de mobiliário da marca "Corque" onde tudo é construído a partir da cortiça nacional.

A 14ª edição do Festival Internacional de Design da cidade começa dia 23 de Setembro. Ana Mestre, alfacinha de 38 anos, vai estar em destaque entre os 400 eventos espalhados pela capital durante os nove dias de feira.

Para a designer, esta "é uma evolução de tudo aquilo que já foi feito e do que está ainda a ser feito, nomeadamente uma expansão geográfica, e uma expansão da marca e do projeto, da possibilidade de encontrar novos públicos e de, em termos profissionais e pessoais, avançar para um nível mais avançado, com mais contexto crítico e novas oportunidades".

A oportunidade surgiu e Ana tem agora trabalhos expostos no bairro vanguardista de Shoreditch. Seis das suas peças em cortiça são protagonistas na galeria The Cube. Entre elas estás o "Puf-fup", uma desconstrução de uma peça comum em muitas casas: o puff.

A cortiça expandida é material aqui usado, sendo "aquele que está mais perto da casca do sobreiro, quase um recurso-lixo", diz Ana. A obra tem 2500 esferas e cada uma 3,5 centímetros de diâmetro. "É a minha primeira peça, a partir desta comecei a achar que queria aprofundar trabalhar a cortiça", explica.

Conceptualmente, Ana quis inverter o conteúdo para fora: "num puff normal temos as bolinhas de esferovite a dar forma, mas aqui as bolas de cortiça formam um carreiro de cinco metros, aproximadamente, que se enrola e desenrola. Pode ser usado como melhor se entende".

Chegam a ser precisos cinco dias para fazer um exemplar e não têm faltado clientes à sua procura.



O "Puf-fup" já nasceu há dez anos. Desde então, o caminho foi explorar a propriedade sensorial da cortiça. O processo semi-industrial e semi-manual foi uma atração para Ana Mestre que, através do doutoramento em design de sustentabilidade concluído na Holanda, fez nascer uma gama comercial de peças dadas agora conhecer ao público do Festival de Design de Londres.

A "Lagarta" foi lançada pela primeira vez em Nova Iorque e o Museu do Chiado levou-a porque também ser vista como uma escultura. Conseguiu criar uma atração para as crianças que, ao vê-la, só querem brincar.



E qualquer um pode sentar-se na obra de arte. "Arte e design é isso, pode aproximar-se, é mais humano. Não deixa de ser um exercício de reflexão do designer mas é apropriado por quem o utiliza", afirma a criadora. A "Lagarta" é um puzzle ou conjunto de bancos criados com um material idêntico ao que na arquitectura é usado como isolante: " É uma estrutura modular que pode ser usada sozinha ou de forma infinita".

Aqui o objectivo foi "fazer a utilização do material mais pobre e fazer o contraponto entre o que se diz que tem valor e o que não tem valor nenhum".

Acrescentar valor é o processo do design. Para além desta peça lúdica, Ana trabalha a modularidade. Ou seja, "um trabalho dentro de limites que se pode usar em laboratório mas sem que isso não impeça de aumentar os objectos".



Por isso nesta exposição podem ver-se também estantes e mesas nascidas da árvore portuguesa do Sobreiro. Por outro lado, a Corque Design - criada em 2009 - vai ter um segundo estúdio em Londres e vai continuar a manter o primeiro - fundado em Lisboa no Centro de Inovação da Mouraria.

O objectivo é multiplicar as peças, potenciando encomendas novas, e dar entrada num novo mercado internacional. Por tudo isso, na sua bagagem vai também um "trabalhoso futuro". Ana Mestre mudou-se para Londres há dias e até já é professora universitária na capital britânica. Ensina o que melhor sabe: design.

Ana Mestre afirma-se como uma designer com preocupações ambientais e pesquisadora deste material. Apresenta-se como "globetrotter", um viajante do globo desde que terminou o curso do IADE. Uma artista que, antes de participar na trienal de Milão de Abril passado, viu o nova-iorquino MOMA vender um vaso térmico em cortiça para garrafas repousarem frescas em gelo.
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