Vila Nova de Famalicão, Braga, 04 abr (Lusa) - A exposição "Des(a)fiar o tempo da indústria", inaugurada hoje na Casa do Território de Vila Nova de Famalicão e que ficará patente até setembro, procura, através da história, perceber "o atual ADN empresarial" deste concelho, indicaram os responsáveis.
"Disseram logo que eu era alta e jeitosa para aquele lugar, fui logo atar teias e andei muito tempo a atar teias. Era o que mais gostava", descreve uma ex-operária da indústria famalicense, cujo testemunho é um dos elementos da mostra "Des(a)fiar o tempo da indústria".
Desenvolvida pela Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Ave (ADRAVE) esta mostra parte de um desafio da câmara de Famalicão, distrito de Braga, cujo presidente considerou hoje, na inauguração, que "é preciso dobrar a esquina e criar condições para que as pessoas percebam que a indústria antes associada a más condições de trabalho e à poluição é hoje um setor de enorme valor".
Na mostra estão expostas peças únicas e que nunca foram expostas de empresas como a Boa Reguladora (1892), Sampaio & Ferreira (1896), Riopele (1927) e Têxtil Manuel Gonçalves (1937), empresas âncora da industrialização de Famalicão, concelho que é o terceiro exportador do país.
De acordo com os responsáveis por esta exposição temporária que está patente na Casa do Território, Parque da Devesa, com entrada livre, pretende-se "revisitar os principais momentos e despertar para a importância deste legado histórico e para os desafios atuais e futuros da indústria em Famalicão".
"É verdade que temos que projetar o futuro, mas é indiscutível que temos que o alicerçar na nossa memória e nas nossas raízes para que sejamos bem-sucedidos. Esta abordagem histórica permite-nos perceber onde é que devemos fundar essas raízes, numa exposição que destaca também outras forças do território, nomeadamente o rio Ave", disse Paulo Cunha.
Em 1822 foi fundada a Sociedade Promotora da Indústria Nacional, enquanto de 1838 data a primeira exposição da indústria portuguesa e em 1875 chegou a Famalicão a linha do Minho, enquanto em 1909 foi inaugurada a luz elétrica neste concelho - estes são alguns dos factos históricos patentes na mostra.
Uma linha cronológica e um olhar sociológico e histórico conduzem o visitante numa viagem pelo processo de industrialização, desde a segunda metade do século XIX até à atualidade.
Vídeos, ilustrações, fotografias, textos, biografias de empresários e depoimentos de ex-operários são alguns dos elementos que compõem as várias facetas da exposição, onde numa parede se lê "a gente vinha cá fora e parecia que trazia as zoadas dos teares nos ouvidos", exatamente antes do setor dedicado a "construir o futuro".
"Esta é uma visão que interliga os campos político, económico e social. E temos aqui as mais antigas empresas e também as emergentes no concelho", sintetizou Paula Peixoto da ADRAVE, vincando que a mostra "não é sobre o passado, mas sobre a memória, o presente e com desafios para o futuro".
No âmbito desta exposição estão previstas visitas orientadas à mostra, bem como visitas ao território como às instalações da Boa Reguladora a 04 de junho, ou um passeio pelas margens do rio Ave, a 16 de julho.
Os serviços educativos também preveem a realização de jogos didáticos e pedagógicos e para setembro está guardada a conferência "A indústria no tempo e as configurações dos poderes".