Um estudo sobre controlos parentais `online` alerta que, apesar das "boas intenções", o uso destas aplicações pode limitar as oportunidades digitais das crianças, e ameaçar a relação entre pais e filhos
"As ferramentas não devem ser concebidas como `aplicações-helicóptero`, para pais que gostariam de `sobrevoar` o seu filho, vigiando-o todo o tempo e a qualquer custo", alerta o estudo "Controlos parentais: Conselhos para pais, investigadores e indústria", o mais recente relatório da rede europeia EU Kids Online.
O estudo, hoje divulgado, adverte que "é essencial manter uma postura crítica em relação a controlos parentais, já que as suas funcionalidades têm efeitos contraditórios".
"Apesar das boas intenções, o uso de controlos parentais tem repercussões nas oportunidades digitais dos mais novos, e pode ameaçar a própria relação entre pais e filhos", justifica.
Segundo as autoras do relatório, Bieke Zaman e Marije Nouwen, da Universidade Católica de Lovaina, Bélgica, a maioria dos atuais controlos parentais é de "tipo preventivo, visando evitar riscos e restringir comportamentos".
A partir do levantamento de estudos realizados sobre o tema, as investigadoras destacam que "as práticas parentais de `(sobre)controlo` e de `(sobre)proteção` podem ter a consequência não desejada de limitar as oportunidades `online` das crianças" e pode ser prejudicial para os seus direitos e o seu bem-estar.
"Não permitir atividades `online` pode, por exemplo, impedir o direito de procurarem informação do seu interesse, de se relacionarem, de se divertirem, etc.", sublinham.
Advertem ainda que, quando o pai ou mãe colocam restrições aos filhos, a partir de uma determinada idade, sem qualquer explicação, "é provável que venham a piorar a dinâmica familiar".
O comportamento de "espiar, à Big Brother", através de controlos parentais, pode também envolver o risco de revelar informação sobre os amigos da criança ou jovem, ou de outros sujeitos.
O estudo alerta que "o potencial dos controlos parentais está além de funções meramente preventivas e protetoras", defendendo que "as medidas protetoras podem e devem incluir soluções que ajudem as crianças a construir mais resiliência para lidar com o risco e dano que possam encontrar".
Após analisarem o estudo sobre a eficácia destas ferramentas, as investigadoras concluíram que "ainda se desconhece a [sua] real eficácia" para reduzir os riscos `online` para os menores.
O estudo deixa recomendações aos pais, como "evitar uma parentalidade sobreprotetora" e "não conceber os controlos parentais", como forma de "`sobrevoar` os filhos, de modo consciente ou inconsciente, a qualquer custo".
Os pais devem também estar conscientes de que castigos, como proibir os filhos adolescentes de usar redes sociais, "não lhes ensinam valores ou normas, e aumentam a probabilidade de quebrarem o castigo em segredo".
Devem ainda discutir as definições dos controlos parentais com a criança e ter presente "as consequências éticas" que o uso desta ferramenta pode acarretar.
Já a indústria deve promover literacia digital nas famílias com filhos, e integrar os controlos parentais com as iniciativas educativas existentes.