Academia de Belgrado premeia "Estoril" do escritor servo-português Dejan Tiago-Stankovic

por Lusa

Um "romance de guerra à portuguesa" é como o escritor sérvio, naturalizado português, Dejan Tiago-Stankovic define o seu livro "Estoril", um enredo político-policial, passado durante a II Guerra Mundial, no Palácio Hotel, galardoado pela Academia Sérvia.

Tradutor de autores portugueses para sérvio (José Saramago, Fernando Pessoa, José Cardoso Pires), e de escritores sérvios para português -- designadamente o prémio Nobel Ivo Andric ("A Ponte sobre o Drina", "O Pátio Maldito"), juntamente com Lúcia Stankovic --, foi através de um artigo sobre o Hotel Palácio Estoril, publicado há cerca de dez anos, que lhe surgiu a ideia deste romance.

"A história incluía nomes sonantes que passaram por Estoril nesses tempos: Jean Renoir, famílias Rothschild e Habsburgo, Eduardo VIII e Mrs. Simpson, Saint-Exupéry, o rei deposto de Roménia Carlos II, Salvador Dali, Marc Chagall, Zsa Zsa Gábor, o campeão mundial de xadrez russo Alexander Alekhine...", disse o escritor, em declarações à Lusa.

"Mas o que mais me intrigou foi o nome Dusko Popov, um espião e agente duplo que, assim conta a lenda, encontrou neste hotel Ian Fleming, que se encontrava numa viagem, [numa missão] dos serviços secretos britânicos. Fleming, alegadamente, sabia que Popov era espião e ficou tão bem impressionado pelo seu estilo boémio, esbanjador e mulherengo, que lhe serviu como inspiração para o famoso agente 007", acrescenta.

O próprio hotel foi cenário do filme de James Bond "Ao Serviço de Sua Majestade", realizado por Peter Hunt em 1969 e interpretado pela primeira e única vez pelo ator australiano George Lazenby.

Dejan, que atualmente vive entre Lisboa em Belgrado, iniciou então um trabalho de pesquisa, que confirmou a história. "Uns anos depois já sabia que tinha nas mãos um romance. Só faltava escrevê-lo".

O escritor e tradutor, com dupla nacionalidade sérvia e portuguesa, descreve assim um retrato muito particular de uma época de grande turbulência na Europa (1940-46), centrado num hotel "que inclui refugiados, serviços secretos de vários países beligerantes, a PVDE [que antecedeu a PIDE, de 1933 a 1945], personagens históricas, o povo português, personificado no pessoal do hotel, mas não tem uma única bala disparada", como assinala. "É um romance de guerra à portuguesa".

Natural de Belgrado, onde terminou o curso de arquitetura em 1991, hoje com 50 anos, Dejan Tiago-Stankovic abandonou o seu país, no início dos conflitos que destruíram a Jugoslávia, para se fixar, primeiro, em Londres e, depois, em Portugal, a partir de 1995. Casou-se com a portuguesa Lúcia Stankovic, viveu no norte do país, tiveram dois filhos, posteriormente fixou-se em Lisboa.

O apelido Tiago, explicou, foi por si adotado por também ser o dos seus filhos, e para "não se confundir" com a antiga "estrela" do futebol jugoslavo, Dejan Stankovic.

Agora, mais de duas décadas depois da chegada a Portugal, cerca de dez anos após a primeira ideia do romance, surgiu a recompensa. A Academia Sérvia de Ciências e Artes (SANU, fundada em 1841) decidiu atribuir ao romance "Estoril" o prémio Branko Copic, que será entregue a 16 de junho, na sede da instituição, em Belgrado.

Entre os membros do júri incluía-se o dramaturgo e argumentista Dusan Kovacevic, que, em 2005, foi designado embaixador da Sérvia em Lisboa.

"O romance já teve quatro edições em sérvio, desde novembro de 2015, e está a ser traduzido para inglês", revela o também autor de "De onde eu era já não sou e outros contos de Lisboa", publicado em 2012.

"Estoril" já possui uma versão em português, mas ainda não foi anunciada uma editora, precisa.

O livro é, em grande medida, centrado na intrigante personagem de Dusan "Dusko" Popov, que trabalhou para a inteligência militar britânica (MI6), sob o nome de código "Triciclo", após ter sido recrutado como "Ivan", pela congénere alemã Abwehr, no ativo entre 1920 e 1945.

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